Sono: aliado improvável do treino

O sono desempenha um papel fundamental em muitas funções fisiológicas e cognitivas do organismo, sendo recomendado para a população adulta entre 7 e 9 horas de sono todas as noites.

 

Embora o sono seja omnipresente, o seu propósito evolutivo permanece indefinido. Sabemos muito sobre a fisiologia do sono e aprendemos mais a cada dia. Sabemos também o que acontece durante o sono com a nossa espécie e com os outros animais quando somos privados dele. O que ainda não sabemos é porque o sono existe em primeiro lugar. O que Allen Rechtschaffen escreveu em 1998 ainda é verdade: “várias teorias do sono foram apresentadas e as flutuações nos padrões biológicos foram medidas durante o sono, mas a função do sono ainda não foi totalmente compreendida”. Pode lhe ser atribuído como o protagonista das muitas funções fisiológicas do organismo, mas a intuição sugere que existe uma função essencial. A descoberta dessa função abrirá uma porta importante para a compreensão dos processos biológicos. Do ponto de vista biológico e evolutivo as teorias do sono podem ser categorizadas naquelas que consideram as causas primárias ou secundárias. As causas primárias exploram o sono como um processo – a fisiologia do sono e a privação do sono, que é o foco de quase todas as pesquisas atuais. As causas secundárias ou evolutivas têm sido propostas, amplamente categorizadas como teorias restaurativas ou adaptativas. As teorias restaurativas ou recuperativas levantam a hipótese de que o sono desempenha uma ou mais das seguintes funções: descansar e reparar; para consolidar o que aprendemos enquanto estávamos acordados; sonhar; para aumentar a resposta imune; para evitar os graves efeitos prejudiciais da privação; para desintoxicar o organismo.

O sono e o exercício físico influenciam-se mutuamente através de interações recíprocas, incluindo múltiplos fatores psicológicos e fisiológicos (CHENNAOUI M et al, 2014). A má qualidade do sono pode ser um sintoma importante de muitos problemas médicos e de distúrbios sono (YANG, 2012). Os distúrbios do sono são considerados uma grande epidemia de saúde pública em todo o mundo. Esses distúrbios têm sido associados a vários tipos de acidentes, certas doenças e taxas de mortalidade da população. Além disso, distúrbios do sono em adultos têm sido associados a um risco aumentado de doenças crônicas-degenerativas que incluem hipertensão arterial, diabetes tipo 2, depressão, obesidade e muitos tipos de cancro. Estudos demonstraram que adultos com distúrbios do sono relatam uma qualidade de vida inferior, comparativamente com adultos com mais de 7 horas de sono todas as noites. Embora as intervenções farmacológicas sejam um tratamento comum para distúrbios do sono, o exercício físico é considerado como uma intervenção não farmacológica e de baixo custo, prontamente disponível para a grande maioria dos adultos e que oferece uma abordagem complementar ou como alternativa potencial para melhorar o sono e é particularmente atraente para as políticas que apostam na saúde pública.

Atualmente, as revisões sistemáticas com meta-análise são consideradas por muitos como o padrão ouro para determinar os efeitos de uma intervenção sobre um resultado. A maioria dos estudos até a presente data apontam para resultados que sugerem que o exercício físico está associado a melhorias da qualidade sono em adultos saudáveis. (CHENNAOUI M et al, 2014)

Muitos estudos estão a ser realizados e, portanto, há indícios na melhoria da qualidade do sono, principalmente com a prática de exercícios físicos de intensidade moderada e quando praticados regularmente. Existem também muitos modelos teóricos que explicam os motivos da melhoria do sono, mas que necessitam de comprovação. Basta citar o mais comum, relacionado com o aumento da temperatura corporal durante o exercício físico e o metabolismo como indutor do sono.

Em conclusão, resultados dos estudos recentes sugerem que o exercício físico está associado a melhorias do sono. Para aumentar o alcance da saúde pública, existe a necessidade de investigação científica mais alargada e uma revisão sistemática ampla, bem executada e mais inclusiva com meta-análises sobre este tema.

Luiz Santos, Diretor Técnico do FIT IT

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