Ortorexia nervosa: Qual a linha que separa o “saudável” do “demasiado saudável”?

Nos dias de hoje há uma pressão aumentada pela sociedade para nos alimentarmos de forma saudável, está na moda. Se para algumas pessoas pode ser um incentivo a melhorarem os seus hábitos alimentares, para outras pode tornar-se num comportamento obsessivo.

O que é a Ortorexia nervosa?


Não há uma definição consensual nem critérios de investigação da patologia, uma vez que ainda não é reconhecida de forma unânime como perturbação do comportamento alimentar, apesar de se ouvir falar cada vez mais.

Podemos defini-la como um foco exagerado e obsessivo por uma “alimentação saudável” “pura” e “limpa” (livre de substâncias artificiais, pesticidas ou herbicidas).

O impacto das redes sociais

Em todas as redes sociais há uma onda crescente de perfis relacionados com o lifestyle, nutrição e dietas. Nos meios de comunicação a mensagem é perpetuada. Nunca, como atualmente, se partilhou tanta informação sobre nutrição. Por isso, é muito importante saber filtrar a informação que nos chega e procurar as fontes mais fundamentadas cientificamente, tendo cuidado com as dicas da influencer mais popular com o corpo “perfeito”.

Frequentemente, para alguém se destacar, há uma radicalização do discurso e daí surgem as modas “sem lactose”, “sem glúten”, “tudo biológico”, “detox”, “jejum intermitente é a cura para todos os males”, etc.. Desta forma, contribui-se para a formação de crenças e o aumento de patologias do comportamento alimentar, principalmente na população mais jovem.

Alimentação saudável

Não há limites bem definidos para o que é um estilo de vida saudável, pelo que o que uns consideram saudável pode, de facto, ser desadequado ou mesmo um exagero.
É importante perceber que mesmo os alimentos com pior perfil nutricional podem fazer parte de uma alimentação saudável, desde que devidamente enquadrados. É tudo uma questão de equilíbrio. Não há alimentos maus, nem bons. Há alimentos, cada um com as suas características nutricionais. Além disso, a alimentação vai muito para além da composição nutricional dos alimentos, também tem a ver com valores, cultura, afetos e experiências. Faz parte da nossa identidade. Sentir culpa por comer o bolo que a avó preparou com tanto amor não traz saúde, nem ao corpo nem à mente.

Quando suspeitar?


Nesta patologia não há restrição na quantidade nem preocupação com o peso, ao contrário da bulimia e anorexia.
Pode, sim, haver uma restrição crescente de alimentos, uma investigação pormenorizada do rótulo nutricional, planeamento rigoroso das refeições com vários dias de antecedência, preocupação excessiva na forma de preparar e confecionar os alimentos para preservar todos os nutrientes e, desta forma, privar-se de comer em restaurantes ou consumir alimentos preparados por outras pessoas. Muitas vezes, acabam por evitar fazer refeições acompanhados. Normalmente, também há nos ortoréxicos um sentimento de superioridade face aos outros no que respeita à alimentação.

Possíveis consequências?


A alimentação restritiva pode gerar deficiências nutricionais, perda de peso, anemia e cansaço.
Os comportamentos mencionados anteriormente podem gerar ansiedade, depressão, isolamento social, obsessão e interferência com a qualidade de vida da pessoa.

Abordagem e tratamento

A falta de critérios de diagnóstico e a escassez de literatura dificultam a sua identificação, tratamento e prevenção. No entanto, à semelhança de outros transtornos alimentares, é necessária uma equipa multidisciplinar constituída por médicos, psicólogos, psiquiatras ou psicoterapeutas e nutricionistas.

Este artigo tem o intuito de informar e alertar sobre a existência deste comportamento e das suas possíveis consequências, não só a nível físico, mas também emocional.

Rita Santos Rosa, nutricionista 4826N

Conhece todos os artigos do nosso blog
TEMOS TUDO PARA SUPERARES OS TEUS LIMITES