A prática regular de exercício físico (EF) é um importante aliado da saúde mental, ajudando, entre outros, a gerir mais eficazmente situações stressantes e proporcionando uma melhor oxigenação do cérebro. Numa breve entrevista com o diretor técnico do FIT IT, Luiz Santos, durante o almoço na Cafetaria Rayz, esclarecemos os benefícios da prática de exercício para a mente.
A prática regular de EF pode ter uma função de escape em situações psicologicamente exigentes?
O exercício físico é sempre promotor de saúde física e psicológica. Estudos científicos têm revelado achados interessantes, a sugerir que a sua prática regular equivale a tomar um antidepressivo ligeiro.
O EF pode ter um papel terapêutico?
No Canadá, quando alguém vai a uma consulta médica com um transtorno ligeiro de depressão ou ansiedade, a prescrição passa por (a) 12 semanas de integração num grupo de meditação mindfulness, (b) um plano alimentar e (c) um plano de exercício físico regular. A medicação está reservada a casos graves ou de sintomatologia persistente. (www.phac-aspc.gc.ca)
Na prática, em que se traduzem os benefícios do EF ao nível do bem-estar?
A prática regular de EF potencia a segregação de endorfinas, dopamina e serotonina, neurotransmissores essenciais à estabilização do humor e da energia. Pode, por isso, constituir uma fuga para níveis elevados de stress e desgaste diário. Vai proporcionar ainda uma melhor oxigenação do cérebro, uma melhora do sistema linfático e circulatório e vai ajudar a reduzir os níveis de cortisol e a regular a ansiedade. Além disso, há evidências de que o EF atenua o envelhecimento das células e promove uma preservação da qualidade das ligações neuronais, o que é bom para a memória, níveis de concentração e novas aprendizagens.
Também pode ajudar a melhorar a autoimagem e a autoestima?
Sim, quando priorizamos tempo para manter uma rotina de treino estamos a dar prioridade a nós mesmos. Esta ação de autocuidado e amor próprio tem, naturalmente, um grande impacto na maneira como nos sentimos, nos vemos e nos posicionamos no mundo.
Como se explicam os baixos índices de prática de EF em Portugal?
O que acontece em Portugal está a acontecer em muitos outros países industrializados, onde a força do trabalho assenta sobretudo no intelecto. Trabalhamos cada vez mais horas, sem usar o corpo, pelo que sobra cada vez menos tempo para o descanso e o lazer. Nesse pouco tempo, surgem tarefas como deslocações, lida doméstica e crianças, que limitam os momentos para o autocuidado, no qual se insere um sono de qualidade, uma alimentação saudável e a prática regular de EF. Adicionalmente, numa era de tantos estímulos, é mais fácil andarmos em modo “piloto automático”, com o cérebro desconectado do corpo, acumulando mal-estar e ignorando as necessidades básicas do movimento humano.
Como se combate a preguiça e trabalha a motivação?
Nem sempre é fácil alcançar a motivação necessária para praticar EF. Cada pessoa encontrará o que mais a motiva: desde atingir um determinado ganho (como perder peso) até evitar um prejuízo (por exemplo, diminuir o risco de doenças cardíacas). Quando cruzamos um plano de EF com objetivos impactantes, a motivação surge.
É possível potenciar essa motivação?
Há que definir pequenos objetivos, sustentáveis e impactantes, considerando os nossos valores e as nossas ambições principais. Também nos devemos ajudar na aquisição de um novo hábito, diminuindo resistências e aumentando gatilhos promotores do EF.
Exemplos? Colocar os ténis à saída de casa e deixar a roupa de treino preparada de véspera. Escolher um horário com menos probabilidade de ser afetado. Adotar uma modalidade que nos dê prazer. Preferencialmente utilizar locais para a prática de EF próximos da zona de residência e do trabalho. Pedir ajuda a um profissional do desporto!
O que devemos ter em conta na escolha de um programa de EF?
Há que considerar não só as características pessoais, mas também o momento de vida em que cada um se encontra. Para alguém que trabalha muitas horas e nunca sabe muito bem quando estará despachado, um treino em grupo pode revelar-se num fracasso. Para uma pessoa ansiosa com o desempenho, treinos individuais poderão ser uma simples solução para alcançar o sucesso. No entanto, se é alguém com um elevado compromisso com o outro e quer conhecer pessoas novas, uma prática em grupo pode alavancar uma maior adesão.
O mesmo em relação ao tipo de prática. Há pessoas que lidam mal com a frustração e a falha, pelo que iniciarem algo completamente fora da sua zona de conforto pode ser penoso. Mas há outras que se motivam pelo desafio. Disponibilidade, objetivos associados à prática, localização, capacidade financeira, aptidão física e gostos pessoais são fatores que devem ser tidos em conta.